Os Portões do Inferno

Em um mundo de fantasia, um sexteto de anti-heróis recebe a missão suicida de resgatar um rei anão destronado, em uma perigosa aventura dentro das cavernas de uma cordilheira. Paralelamente, os Portões do Inferno — a fortaleza que sela a passagem para uma dimensão sobrenatural e impede que os demônios invadam os reinos — sofrem ataque de uma força invasora composta por elfos das profundezas, com a motivação de espalhar as trevas sobre a superfície, para que voltem a habitá-la. Em algum momento, aquele idiossincrático e improvavelmente carismático grupo de protagonistas terá que decidir se salva o mundo da invasão demoníaca ou se coloca tudo a perder por causa da própria ganância e da desconfiança mútua.

Primeiro volume da trilogia Lendas de Baldúria, Os Portões do Inferno mistura a pegada marginal de O Esquadrão Suicida com a ambientação clássica de RPGs como Dungeons & Dragons e World of Warcraft. Com domínio preciso da narrativa aventuresca, lançando mão de um ritmo ágil e constantes reviravoltas, André Gordirro pontua o texto com um senso de humor muito próprio e apurado; é inegável seu gosto pela picardia e pelo deboche, o que o leva a brincar com os próprios clichês do gênero e adiciona ainda mais sabor à obra.

Trecho

No meio do dia seguinte, a Nona Legião das Damas Guerreiras da Rainha Augusta chegou ao ponto onde deveria se juntar aos Punhos Negros, a companhia de mercenários que aguardava as forças de Dalínia no Ermo de Bral-tor. O que elas encontraram, porém, foi o cenário de um massacre. Três mil soldados mortos, deixados ao sol com os olhos arrancados; era uma imagem forte até para a Capitã Reníria, que comandara o extermínio de um povoado de elfos insurgentes nas florestas do reino. Os inimigos de Dalínia tinham sido caçados e abatidos sem piedade, mas não daquela forma. Boa parte dos Punhos Negros estava com as gargantas cortadas, como se os homens tivessem sido assassinados durante o sono; outros apresentavam golpes de estocadas nas costas e na frente dos torsos desprotegidos. Com certeza, foram atacados durante a noite, sem chance de colocar armadura. Os vigias blindados e armados tinham expressões de susto nos rostos sem olhos.

Reníria tirou o elmo para ver melhor a cena e voltou-se para a ajudante-de-ordens, Zuldíria.

Como um acampamento inteiro é surpreendido dessa forma? — perguntou a líder das Damas Guerreiras.

Eu não sei dizer, capitã. . .

A Rainha Augusta não acreditava que fossem mesmo svaltares. . . Mas agora. . . Que outra criatura tem poderes de ficar invisível e come carne humana? — Reníria virou o rosto de um mercenário com a ponta da espada. — Só um svaltar pode ter feito isso. Porém, o que mais me intriga é que eles não enxergam sob o sol. Como esperam cruzar essa terra desgraçada? Virando bruma?

Eu não sei dizer, capitã — repetiu Zuldíria. — A senhora já viu um svaltar?

Não, mas agora sei que vou ver. Em nome da Rainha Augusta, em nome do Deus-Rei, nós temos que encontrar e destruir os monstros que fizeram isso. Avise Dalínia e a Morada dos Reis. A invasão svaltar é verdadeira. Os Portões do Inferno correm perigo.