Traição em Zenibar

Na fantástica cidade subterrânea de Zenibar, um plano de conquista da superfície mexe com a linhagem mais poderosa dos elfos das profundezas — e em especial com a vida de Kalannar, o nobre primogênito que treina para ser assassino, à revelia dos pais. Envolvido em uma trama que mistura alta magia, vingança ancestral, espionagem em território inimigo e tabus de uma sociedade elitista e cruel, o então aprendiz de matador terá que estar um passo à frente de todos para evitar ser atraiçoado tanto por inimigos… quanto pela própria família.

Os eventos de Traição em Zenibar ocorrem ao longo de três décadas e representam um grande spoiler para quem não leu Os Portões do Inferno, o Livro Um das Lendas de Baldúria.

Trecho

Kalannar nunca tinha ido tão ao norte de Zenibar. Ele não conhecia aqueles túneis, mas felizmente havia marcações discretas feitas pela Casa Ceannar para guiar os mercadores da família. Outro svaltar não teria notado os sinais, mas Kalannar fora bem instruído por Gizar. "Um plano começa e termina nos detalhes; eles são a brecha por onde o fracasso entra e o sucesso escapa", dizia ela. A amante o acompanhava na mente, naquela longa jornada solitária; cada avanço pelas câmaras subterrâneas o aproximava mais do objetivo de se tornar o ayfar da Casa Alunnar e consagrar os ensinamentos que ela lhe passou. Quando não estava pensando em Gizar, Kalannar repassava os fundamentos do idioma humano na memória, as frases mais comuns para pedir informações e localizar alguém, as palavras mais úteis para tentar captar em uma conversa. Às vezes, no silêncio absoluto do caminho, ele arriscava dizê-las em voz (não tão) alta.

Outro pensamento o consumia na viagem tediosa: a informação dada por Regnar de que os humanos se encontravam em guerra com os alfares e estavam prestes a vencê-los. Será que aquilo era mesmo verdade ou apenas um argumento desesperado do irmão, que estava impaciente para colocar a conquista da superfície em andamento quando ainda havia tanta coisa a ser feita? Eles não podiam simplesmente invadir o mundo exterior às pressas, não sem a passagem por Fnyar-Holl estar garantida, não sem Vragnar confirmar que as defesas místicas do Fortim do Pentáculo podiam ser derrubadas.

A mente podia estar ocupada, mas os ouvidos de Kalannar estavam sempre atentos: eles notaram a passagem de um zimoi bem antes de um encontro que teria sido mortal. O svaltar se escondeu em um túnel lateral, passando por uma fenda que seria apertada demais para o ogro-das-cavernas entrar para persegui-lo, e esperou o som da criatura sumir ao longe, sinal de que tinha ido embora. E decidiu aguardar mais um tempo; às vezes, zimois caçavam em duplas, e poderia haver outro monstro à espreita.

E havia, mas não era outro zimoi.